Casos como o do bebê de 11 meses deixado dentro do carro pelo pai, em Santa Rosa, no noroeste do Estado, geram uma discussão polêmica sobre as conseqüências do estresse e da correria do dia-a-dia. Esses fatores, aliados à rotina, ocasionam o que os psicólogos chamam de "piloto automático". A professora de pós-graduação em psicologia da PUCRS e coordenadora de um grupo de pesquisa na área da memória, Lilian Milnitsky Stein, explica que nesse contexto é necessário lembrar de muitas responsabilidades do dia-a-dia e a memória condensa uma série de informações, organizando um roteiro no cérebro.
— Esse processamento na memória existe para guiar uma pessoa a fazer o que se quer fazer sem pensar. Nesse caso da tragédia, o que aconteceu foram conseqüências graves para esse processo — avalia a psicóloga.
Ela presume que o pai do bebê, o delegado titular da 2ª Delegacia da Polícia Civil de Santa Rosa, José Enilvo Soares de Bastos, tenha como rotina sair de casa, pegar o carro e dirigir por ruas que, conscientemente, ele nem lembra. Lilian cita como exemplo corriqueiro as pessoas que saem no domingo e tomam o rumo que direcionam ao trabalho, quando na verdade, a pessoa queria ir para outro local.
A psicóloga também supõe que a menina Alice estava dormindo, não emitindo ruídos ou sons, o que fez com que o pai não desligasse o "piloto automático", comum para o cérebro, e acabasse esquecendo de levar a menina para a creche.
— O ato de esquecer não tem implicações nenhuma na vida rotineira. A memória funciona bem todos os dias, quando não acontecem falhas. Isso permite que, enquanto o cérebro funciona no automático, ela libere espaço e energia para trabalhar com várias coisas ao mesmo tempo. É bom esquecermos algo. Infelizmente, com esse pai, a memória falhou e a conseqüência resultou em tragédia — lamenta a psicóloga.
Relembre o caso:
Pai da menina Alice de Bastos, de apenas 11 meses, o delegado titular da 2ª Delegacia da Polícia Civil de Santa Rosa, José Enilvo Soares de Bastos, foi personagem de um caso trágico na tarde desta quinta-feira. Ao esquecer de levar a filha única para a creche, o policial foi direto ao trabalho e só lembrou que a bebê estava no carro cerca de quatro horas depois. Foi o telefonema da mulher que o fez correr para ver a filha que havia sido esquecida no Golf estacionado na delegacia, localizada no bairro Cruzeiro.