Cinco dias após a morte de Ana Paula Sulzbacher, de 15 anos, em Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, o caso ainda é um quebra-cabeça, com depoimentos contraditórios e informações desencontradas.
O celular que a menina carregava quando saiu de casa, na sexta-feira à noite, ainda não foi encontrado. Um possível rastreamento pode ajudar a desvendar o crime. No entanto, o delegado Miguel Mendes Ribeiro Neto prefere não dar detalhes para não atrapalhar a investigação:
— Ainda estamos admitindo todas as suspeitas. Há muitas divergências e por isso temos de relativizar tudo.
Embora a troca de mensagens e ligações telefônicas tenham sido os últimos contatos da menina que se tem registro, enquanto ela estava viva, a quebra do sigilo telefônico, por enquanto, não indicou nenhuma relação com o crime. Conforme o delegado, não há números diferentes dos que ela normalmente usava para se comunicar. O computador de Ana Paula está com a polícia, mas ainda não foi averiguado.
Ontem, Ribeiro Neto também admitiu que o relato de testemunhas que disseram ter visto a menina caminhando, após as 22h de sexta-feira, em direção ao centro da cidade, não se confirmaram, porque as informações fornecidas não fecharam com as roupas que Ana Paula usava.
Por isso, a única certeza que ele tem é de que a menina saiu de casa às 20h45min. Por outro lado, novos depoimentos levam para outras hipóteses.
— É uma teia que vai se formando e é preciso cuidado para analisar tudo — conta, sem dar detalhes, o delegado.
A polícia também procura por possíveis câmeras de monitoramento que possam ter registrado o percurso da menina. No entanto, o Parque da Cruz, ponto turístico onde Ana Paula foi encontrada, na segunda-feira, não possui câmeras e os vigilantes contratados pela prefeitura trabalham somente até as 19h. Após, o local é fechado.
Entretanto, o parque é apenas parcialmente cercado, oferecendo acesso a pessoas em qualquer momento do dia.
— Tinha evento de uma igreja no parque até as 21h30min de sexta-feira. Depois não ouvimos mais nada. Mas sempre tem gente entrando e saindo dali — conta o marceneiro Frederico Brandt, 32 anos, que mora ao lado do morro da cruz.
O local de onde Ana Paula teria caído, em uma possível fuga, ou tenha sido empurrada fica a cerca de cinco metros do mirante da cruz, onde os visitantes conseguem visualizar a cidade. No entanto, o acesso à beira do penhasco, pelas laterais, é fácil, pois não há grades impedindo a passagem. Ali, o terreno é irregular, com muitas pedras soltas e vegetação variada, além de não ter iluminação.
— Falta segurança, câmeras e iluminação. Não é à toa que muita gente já se matou aqui e outras usam para consumo de drogas e bagunça — revela o vigia do parque Enedi Frozza, 64 anos.
O penhasco de onde Ana Paula caiu tem aproximadamente 40 metros de altura e era uma antiga pedreira. Abaixo dele, onde o corpo dela foi encontrado, tem mata e muitas pedras. Ao lado, fica o anfiteatro feito para sediar eventos.
ENTENDA O CASO
— Ana Paula Sulzbacher, de 15 anos, saiu de casa às 20h45min da última sexta-feira dizendo que iria na casa de uma amiga, mas esta amiga não estava em casa.
— Pelo celular, a adolescente estava combinando de ir na casa de um amigo, que fica no mesmo bairro onde ela morava, mas também não apareceu.
— O sumiço foi comprovado na manhã de sábado, quando o caso foi registrado na polícia.
— Na segunda-feira, às 17h10min, um morador encontrou o corpo no Parque da Cruz, com a ajuda de cães.
— A necropsia indicou que há lesões nos órgãos sexuais, mas não foi conclusiva quanto ao abuso sexual. O exame ainda indicou que a menina morreu devido à perda de sangue, causada por múltiplas fraturas, possivelmente decorrente da queda de 40 metros do penhasco.
Fonte: Diário Gaúcho