Há quase 80 dias, cinco jovens internadas devido a ferimentos provocados pelo incêndio na boate Kiss, em 27 de janeiro, mostram força e superação. A vontade é de deixar logo os hospitais e ir embora com os familiares que, literalmente, mudaram-se para as instituições de saúde da Capital. Elas são cinco mulheres, na faixa dos 20 anos, e possuem uma característica em comum: são verdadeiras guerreiras. Cristina Peiter, Kelen Ferreira, Mariane Vielmo, Renata Ravanello e Ritchieli Lucas são as meninas que saíram naquela noite para se divertir e que batalham pela vida depois de sobreviverem à maior tragédia do Rio Grande do Sul.
A volta à rotina não será fácil. As marcas deixadas pela tragédia ficarão para sempre nas memórias das meninas. Mas elas se recuperam bem. Nesta terça-feira, completam-se 79 dias que estão internadas. O cansaço e o clima hospitalar incomodam, no entanto, com coragem e fé, elas seguem os tratamentos na luta pela recuperação.
- É impressionante como ela está bem psicologicamente. Está reagindo e busca todos os dias sua recuperação. É claro que há o cansaço, já são quase três meses, mas eu confirmo que não há desistência por parte de nenhuma das meninas - diz Dilvaine Ferreira, tia de Kelen, e que acompanhava o tratamento de todos os internados no Hospital de Clínicas, na Capital.
Outra motivação encontrada por Kelen é o retorno às aulas. Conforme a tia, a família da estudante de Terapia Ocupacional da UFSM entrou em contato com o curso para fazer aulas a distância. Dessa forma, ela não perde o semestre, ganha motivação, e ficará com os pais, em Alegrete, conta a tia.
A coordenação do curso confirmou que a solicitação foi feita e aguarda a autorização da junta médica e de outros setores para enviar as leituras, trabalhos e atividades a Kelen.
- Os professores de Terapia Ocupacional estão ansiosos para retomar, de certa forma, o contato com a nossa aluna - conta a vice-coordenadora do curso, Dani Laura Peruzzolo.
Cirurgião diz que foco principal é a saúde emocional das pacientes
É evidente que as cinco meninas internadas ainda necessitam de cuidados especiais. Elas se recuperam dos transplantes de pele e cirurgias corretivas em função das queimaduras. Ciro Portinho, cirurgião plástico do Clínicas - onde estão quatro das cinco internadas -, explica que as sobreviventes tiveram quadros mais graves de ferimentos externos, mas estão bem em relação às vias respiratórias - a última a deixar a CTI foi Ritchiele, na quarta-feira. Segundo Portinho, as sequelas são inevitáveis, pois tratam-se de grandes cirurgias e de machucados graves e delicados.
- Explicamos para elas que cada dia pode ser melhor - diz o médico.
De acordo com o cirurgião, neste momento, além das cirurgias que ainda estão sendo realizadas, é preciso tratar o psicológico das meninas. No ponto de vista dele, o emocional é um dos quadros mais preocupantes:
- Elas são mulheres, vaidosas. Precisam retomar suas vidas, suas rotinas, mesmo com as dificuldades. Sempre digo: cada dia é preciso um novo objetivo. Cada curativo ou procedimento, torna-se uma conquista.
No Hospital de Clínicas
Cristina Peiter, 23 anos
- Nascida em Três de Maio e estudante de Engenharia Florestal da UFSM
- Cristina teve 22% do corpo queimado, ficou 25 dias na CTI, sendo 18 em coma induzido. Ela está no quarto, lúcida, e seu estado de saúde é bom. Cristina teve queimaduras significativas nas pernas e em um dos braços
Kelen Giovana Leite Ferreira, 19 anos
- Nascida em Alegrete e estudante de Terapia Ocupacional na UFSM
- O quadro clínico da jovem é estável, afirma a tia Dilvaine Ferreira. Kelen ficou 24 dias na CTI e teve cerca de 30% do corpo queimado. Segundo a tia da jovem, Kelen está muito bem psicologicamente, mas ainda não tem previsão de alta
Mariane Wallau Vielmo, 24 anos
- Nascida em Santiago e estudante de Sistemas de Informação da Unifra
- Conforme o irmão Maurício Vielmo, Mariane está melhorando e se recupera gradativamente. Segundo Vielmo, ela está mais animada e com bom-astral. Não há previsão de quando Mariane deixará o hospital
Renata Pase Ravanello, 25 anos
- Nascida em Cruz Alta, funcionária da prefeitura de Júlio de Castilhos e pós-graduanda em Direito do Trabalho
- O irmão Jonas Ravanello afirma que ela está bem, esperando novos resultados de exames. Renata aguarda uma avaliação médica no braço direito para saber a necessidade, ou não, de novo implante de pele. Já o braço esquerdo e o pé, assim como os pulmões, estão normais. Conforme Jonas, Renata teve 20% do corpo queimado
No Hospital Mãe de Deus
Ritchieli Pedroso Lucas, 19 anos
- Nascida em Santa Maria e estudante de Ciências Biológicas da UFSM
- Conforme o pai, Bráulio Lucas, Ritchieli está bem e segue os tratamentos. Na quarta-feira, ela deixou o Centro de Tratamento Intensivo (CTI) e foi para o quarto. Não há previsão para a alta da jovem, que teve cerca de 30% do corpo queimado, necessitando fazer enxerto. Conforme amigos, Ritchiele caminha e conversa com familiares. Ela é irmã de Driele Pedroso Lucas, a 241ª vítima do incêndio na boate Kiss, que morreu em 7 de fevereiro.
Fonte: Zero Hora